Monday, February 3, 2014

Querida Babilónia,

É com muito amor e respeito que te escrevo. Sempre te imaginei como o meu centro comercial preferido, desde adolescente que viajo pelos teus corredores, sempre à espera de soluções para os meus problemas. Nos teus corredores instalaste todas as línguas do mundo conhecido, e nelas sempre me senti a viajar por mares nunca antes navegados. Muitas personagens e histórias me ofereceste, por isso é justo que agora te agradeça a melhor das personagens.

A jeito de coincidência, ou não, na passada sexta-feira fui à festa dos 30 anos da minha querida escola secundária da falagueira. Nessa festa, onde pude reencontrar um colega do 9ºano, que insistiu em reconhecer-me de ocasiões que adorava nunca recordar, deixei cair o meu i-phone ao chão. Vidro rachado, e-mails para a operadora, pedidos de orçamento, e uma certeza: Não vou gastar dinheiro nisso.

Mas hoje tudo isso mudou, fui ao Babilónia e escolhi uma loja de paquistaneses (acho) para pedir um arranjo. Durante 30 minutos, aquele jovem sem aparente formação, luvas ou bata branca, abriu, desaparafusou, desmanchou, atendeu clientes, cumprimentou amigos, falou ao telefone em paquistanês (acho), e ainda teve tempo para iniciar a reparação de outro telefone. Tudo isto podia ter corrido muito mal, mas não correu. estranhamente o i-phone está reparado e por um preço muito abaixo das minhas mais loucas expectativas.

É por isso com amor, que te agradeço por esta lição. Ele não estudou como eu, não teve mesadas como eu, nem comprou uma casa, nem escreve peças de teatro como eu. Ele aproveitou a oportunidade e é, claramente, melhor do que eu, sabe reparar coisas, para além das que já deve ter produzido para mim noutras paragens. Se eu sou artista, então este paquistanês é um génio! Ou no mínimo é uma grande personagem do mundo atual.

Ps: Em choque, esqueci-me de perguntar-lhe o nome, mas reparei que já tinha um pequeno filho na loja ao lado.


Obrigado,
Pedro Saavedra (um artista português)
21 de Janeiro de 2014

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