Monday, February 3, 2014

Querido Panteão Nacional,

Como todos os povos, os portugueses precisam de heróis, de mitos que percorram a sua vida quotidiana e que nos (também eu sou português) façam sentir especiais. Eusébio, o pantera negra, não nasceu português, como hoje é nascer português, mas quando nasceu, Eusébio era português. E foi como português que fez os portugueses vibrarem. Nele, os portugueses viram que podiam ser mais do que, apenas, os livros da quarta classe ensinavam. Nele, os portugueses descobriram um novo tipo de herói, não marcial, não martirizado, não perdido no meio de um qualquer deserto africano. Nele os portugueses brancos da metrópole, pela primeira vez, sentiram que um negro era melhor do que eles próprios. Nele, os portugueses ganharam orgulho, e nisso o futebol, substituiu os exércitos, que nunca mais teremos. Com Eusébio, o GOLO! substituiu, para sempre, o FOGO!

Por isso, querido Panteão Nacional, jogar como o Eusébio da Silva Ferreira jogou é escrever como Almeida Garrett escreveu, protestar como Humberto Delgado protestou ou cantar como a Amália Rodrigues cantou. Vê lá, então, se arranjas um espaço dentro de ti para um homem que representa o fim de um Portugal e o início de outro. E já agora, nesses re-arrumos deixa espaço para mais heróis nacionais, como o Saramago, e outros tantos, de tantas outras áreas da cultura que tens de representar, porque todos estes heróis são cultura portuguesa, com certeza!

Ps: Já quase não te sobram heróis do passado, teremos mesmo de construir juntos novos heróis, e isso vai dar trabalho, mas vai, mais tarde ou mais cedo, acontecer, fica atento por favor.


Obrigado e Abraço,
Pedro Saavedra (um artista português)
6 de Janeiro de 2013

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